Pulverização eletrostática, conheça a técnica

O uso da pulverização eletrostática na agricultura começou na década de 1960. Porém, ainda existem muitas dúvidas sobre o funcionamento da técnica e sua eficácia.

Um dos primeiros equipamentos que chegaram ao Brasil com essa tecnologia foi o “Electrodyn”, bastante conhecido na década de 1980 e desenvolvido nos Estados Unidos. O equipamento foi desenvolvido para aplicações manuais em baixos volumes.

A pulverização eletrostática consiste basicamente na transferência de carga elétrica para as gotas pulverizadas, processo que pode ser realizado por diversas metodologias.

Um dos processos mais utilizados é a existência de um eletrodo (com presença de corrente elétrica) que fica ao redor da ponta de pulverização, na região próxima de onde são produzidas as gotas. (Figura 1).

Como é realizada a pulverização eletrostática

Este processo é denominado “Sistema de Indução”, sendo utilizado na maioria dos equipamentos atuais. Em geral, os eletrodos recebem uma tensão positiva, gerando um campo eletrostático que induz a formação de gotas com cargas negativas (opostas à carga do eletrodo).

A unidade que mede a quantidade de carga em uma gota é chamada de milicoulomb por quilograma (mC kg-1), que idealmente deveria estar acima de 1,0 mC kg-1. Também é importante que a solução utilizada tenha certa condutividade elétrica, pois a carga deve ser transferida do eletrodo para a gota em um pequeno intervalo de tempo.

Figura 1. Processo de pulverização eletrostática. (Fonte: Adaptado de Matthews, 2014).

Embora exista há mais de 50 anos, ainda existem dúvidas sobre o uso e a eficácia da pulverização eletrostática. Porém, alguns aspectos são importantes para entender por que as dúvidas ainda ocorrem, como será discutido a seguir:

Não se pode generalizar e pensar que todos os equipamentos de pulverização eletrostática são iguais. A relação carga/massa, por exemplo, que resultará na carga da gota (mC kg-1) varia de acordo com o projeto das máquinas, a queda de pressão no eletrodo, o tamanho das gotas, entre outros fatores. Ainda assim, existem sistemas que combinam transferência de carga com assistência aérea (e há particularidades entre os sistemas também).

Neste ponto, o vento gerado pelo auxílio aéreo pode favorecer o deslocamento do ar entre as folhas da cultura, e favorecer a ação da pulverização eletrostática, que por si só teria menos chances de atingir os alvos mais difíceis, sendo os da região inferior terço das plantas.

Experimente usar pulverização eletrostática

Em 2019, foi realizado levantamento pela AgroEfetiva utilizando pulverizador Uniport 3030 Eletrovortex, da Jacto (Figura 2). O equipamento combina assistência de ar mais transferência de carga elétrica para as gotas de pulverização, e foram obtidos resultados positivos na deposição de calda com fungicidas na cultura do algodão.

A pesquisa foi realizada em uma fazenda na região de Campo Novo do Parecis, MT, utilizando taxa de aplicação de 60 L/ha. A ponta de pulverização utilizada foi a ATR 80-2,0 (Jacto), com pressão de operação de 5,7 bar (570 kPa) e utilização de gotas muito finas (MF).

Uso de pulverizador com experimento
Figura 2. Pulverizador pneumático mais carga eletrostática de gotas em algodão. Foto: AgroEfectiva.

Observou-se que a integração das tecnologias (assistência aérea + transferência de carga) aumentou a deposição em todos os extratos da cultura (superior, médio e inferior) em comparação ao sistema off (sem carga ou com ar).

O maior ganho de deposição ocorreu no terço médio do algodoeiro, que possui o maior volume de folhas. Esse ganho equivaleu a um aumento de 116%, seguido pelos terços superior e inferior, com 18,7% e 22,2%, respectivamente.

Recursos de carregamento eletrostático

Portanto, observa-se que o uso da carga eletrostática auxilia na pulverização quando associado à assistência aérea. Porém, algumas características devem ser consideradas, como o projeto da máquina e do sistema de carga eletrostática, a classe das gotas, entre outras, para que haja a carga elétrica correta às gotas.

A velocidade do vento utilizada também é importante, devendo ser adequada ao índice de área foliar da cultura. A utilização de altas velocidades em uma cultura com pouca desfolhamento, por exemplo, pode prejudicar a deposição, ou até mesmo aumentar o risco de deriva.

Fernando K. Carvalho1Michael Althman2Ulisses R. Antuniassi3Rodolfo G. Chechetto1; Alisson AB Mota1

1Engenheiros Agrônomos, Pesquisadores, AgroEfetiva, Botucatu/SP. fernando@agroefetiva.com.br

2Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Agronomia, FCA/UNESP, Botucatu/SP. michael_althman@hotmail.com

3Agronomist, Full Professor, FCA/UNESP, Botucatu/SP, Brazil. ulisses.antuniassi@unesp.br

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